LINGUAS E SERPENTES
dgaudioprocopio o Poeta
POR TRÁS DO VERBO
Se me odeiam ou se a mim, devoram,
Corroem-me a alma em transe altiva.
Se me pedem ou se furtam em dores
É lamentável que fuja a ironia trágica!
Não em plena luz do dia que ti roubam.
Não destroem a seiva viva que implora
Mas minam alma em sórdida proposta.
Pelos ditos do que não foram em salva:
Ao respaldo dos amigos em vã ressalva.
Não vagueis em vossa falsidade plena,
Com atrozes perdas de outrora amena:
Mas deleiteis em vós e sobre vós arenga
Dum absurdo insano em decadente cena.
Ainda que a cerda lavrasse em boa vinha
Mas os frutos e fatos apodreceriam a vinga.
Em suma delinquência de uma nefasta lida
Que de tétrica resplandeceria descontraída.
Se me odeiam ou se me devoram?! Imploram!
Falsos sentimentos entorpecidos. Insalubres!
Inebriados em veneno de gosma e lacta febril
“Tal qual áspide traiçoeira.” “Naja” fétida cútis.
Se me odeiam ou se me devoram?
Correm ao banquete os abutres.
De vestes brancas, pele preta e parda...
Bico de abutre com asas de condor.
Investidos e disfarçados de aves domésticas
Em voo simples de uma pomba em paz missão:
Ledo engano! Mentem sorrateiramente a todos;
Em fétidos esquifes ambulantes e falantes tisgos.
Engomados em vestes e togas! À linho fino: tss. tss.
O hálito fede a esterco podre: “fala que te escuto...”
Conhece a ti mesmo e vereis quem sóis. Tolos!
Conhecereis o homem pela fala. O glutão pela boca.
O mendigo pela roupa, o padre pela batina,
O advogado pelo terno, o pai de santo pelo sapato.
E o mentiroso? Impossível! Junte todos e obterão:
Uma mescla de obtusos em desconforme.
Falais-vos todos ó insanos! Então vos conhecêreis.
O abutre se conhece pela sombra... Mas vós?...
O verbo que envergonha e corrói a estirpe
Pinguim de tribunal em desconforme à
Garçom de presídio em baixa temporada.
Uma raça maldita que serve ao ventre
Em trapos e rotos maltrapilhos escarros
Uma escória que enerva a turba sã
Não faltarão adjetivos e provérbios
Não sobrarão muito do podre ator.
Assim é! Assim serás! Não mudarás
E nem terás meu perdão ao pressuposto.
Que de neres e tolo; ao tudo serás!
Assim encerro meu decantado indouto
Convertido em opróbios de escarlates
Ao verme deprimente e indigesto ser:
A raça fétida que pleiteia causa injusta.
Víboras e necrófilos! Espectros inanimados.
Disfarçados de homens e gentes. Tolos!
Por si e por vós; a razão de ser: viventes!
Assim encerro meu decanto mórbido.
Assim encerro e assim serás.
A verdade por trás do verbo.
A mentira por detrás da verdade.
A face oculta da amizade.
Se me odeiam e se me corroem todos?!
Todos perecerão o castigo. Injustificável!
Assim é assim será. O mistério de D`Gáudio.
D`Gáudio Procópio