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DGÁUDIO ENTREVISTA O PROFESSOR CINEAS SANTOS
Pergunta: - Prof. Cineas, como o senhor encara a poesia atualmente? O senhor acha que ela segue uma nova tendência, uma nova corrente literária ou ela parou no romantismo? Qual a sua opinião!
Resposta: – Que poesia? A brasileira?
Pergunta: – A nossa poesia regional. Em termos de Piauí e região.
Resposta: – Eu acho que a poesia piauiense está num patamar elevadíssimo! Aqui nós temos poetas... Mário Faustino... Para citar apenas um nome... O Mário Faustino já daria uma dimensão universal à poesia piauiense; o Dobal! O Dobal não é o maior poeta piauiense como se comenta, o Dobal é uma das vozes mais lúcidas de consequência da moderna poesia brasileira! É um grande poeta brasileiro de língua portuguesa! Aí nós temos Paulo Machado, Graça Vilhena, Salgado Maranhão, Elias Paz e Silva, Carvalho Neto, todos esses autores!... Wiliam Soares! Essas pessoas fazem poesia da melhor qualidade. Então não... Estamos vivendo hoje o modernismo e o pós-modernismo no Piauí. Não é por falta de bons poetas que o Piauí não está avançando, as razões devem ser outras.
Pergunta: – O que quero questionar é, se o momento exigiria um estudo sobre tendências poéticas ou correntes literárias. Ou se a poesia parou no seu estilo?
Resposta: – Não existe essa história de parar! A poesia não para. A poesia vive! É dinâmica! Ela está de acordo com o momento. Eu acho uma coisa muito... Muito curiosa! Eu não vejo necessidade de sistematização. Essa coisa de corrente literária... Escola literária é coisa do Ocidente. E mais especificamente coisa de professor! Os professores agrupam os poetas em determinadas correntes éticas para facilitar a vida deles como professor. A poesia é eterna, moço! A boa poesia pode ser escrita ontem, pode ser escrita hoje para amanhã. A poesia não precisa de classificação. Você tem que classificar é melancia, abóbora, batata, jumento, bezerro, vaca. A poesia não! A poesia é eterna! Desde que seja efetivamente poesia de qualidade. Eu me surpreendo de quando em vez dizendo... Dizendo: (“comigo me desavim, Sou posto em todo perigo; Não posso ficar comigo, Não posso fugir de mim”) do Sá de Miranda. Sá Miranda! Tem coisa mais moderna?! Tem mais de 500 anos! Tem coisa mais moderna? Então não há perigo de a poesia parar. A poesia está aí! É dinâmica, é viva e vai continuar viva.
Pergunta – Um conselho para a juventude de hoje
Resposta: – Leia! Principalmente poesia. Os poetas têm uma capacidade enorme de dizer verdades que as pessoas não prestam atenção. Eu tenho dito onde posso: se você me perguntar entre os profetas, os filósofos e os poetas, eu fico com quem? Eu fico com os poetas. Os profetas tentam ganhar tua alma, os profetas tentam te conduzir para a salvação. Os filósofos tentam explicar a vida pela ótica da racionalidade. Os poetas dizem verdades. Eu fico com os poetas.
[Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.]
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Sá de Miranda # Comigo me desavim
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Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
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Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho inimigo de mim?
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de Francisco Sá de Miranda
FOTO: DGÁUDIO
(1481-1558)
Por DGáudio Procópio – agosto de 2011