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FDG - FEITOPORDGAUDIO

CORPO & USO, UM POUCO DE TUDO; POESIAS, CULTURA E MODA

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CORPO & USO, UM POUCO DE TUDO; POESIAS, CULTURA E MODA

16.04.11

A LENDA DA BAIXA DA ÉGUA


dgaudioprocopio o Poeta

 

FOLCLORE/A LENDA DA BAIXA DA ÉGUAFOTO: DGAUDIO

 

 

LENDAS/BAIXA DA ÉGUA/MANOEL MESSIAS

 

 

A LENDA DA BAIXA DA ÉGUA

 

FOTO: DGAUDIO

Sr MANOEL MESSIAS

 

 

 

Como surgem as lendas? Elas nunca têm um ponto exato de partida. Uma origem exata; elas são como boatos, fofocas, o famoso disse me disse. Em geral elas apresentam uma referência ligada a fatos, pessoas, acontecimentos e algo do gênero. Onde todos afirmam categoricamente que a sua versão é verdadeira e original. Em alguns casos têm seu início em um fato verídico; mas a partir do fato os detalhes passam de boca em boca e ao final os detalhes têm suas versões alteradas, o que terminam por caracterizar em mitos: e com o passar dos tempos os mitos tornam-se lendas. E como não poderia ser diferente. Temos aqui a lenda da BAIXA DA ÉGUA EM TERESINA. E para melhor nos informa-nos, fomos à fonte de onde se originou a lenda. E nessa oportunidade conversamos com um morador antigo da região onde ocorreram os fatos; o Sr. Manoel Messias.

 

...— Nas décadas de 40 e 50 quando Teresina ainda era uma “garotinha” e os meios de transporte era à base de carroça e lombo de animais.

 

Naquela época o meio de transporte mais utilizado era através de carroças e lombo de animais, como burros, jumentos e éguas. A égua era muito usada por ser um animal forte e com maior tração que os cavalos. Havia muitos carroceiros que habitavam as margens do rio Parnaíba, e a noite eles soltavam as éguas para pastarem na região.  Região essa que compreendia a beira do rio até a área onde hoje é o Colégio Zacarias de Góis, mas conhecido como LICEU PIAUIENSE eram uma grande quinta.   Mato! Era só mato.

E era conhecida como baixa da égua por ser uma região bastante  acidentada, com muitos altos e baixos, enormes pedras e muitos grotões. (Grota= buracos, enormes fendas no solo,) e durante o dia os tropeiros e viajantes que vinham do interior (zona rural de Teresina) deixavam seus animais nessa região. “De modo que aqui funcionava como um entreposto, como se fosse um ponto de TAXI, ou MOTOTAXI ou até mesmo o que hoje funciona na beira do rio onde tem os CARROS DE FRETES.” E aquelas pessoas (agricultores) vinham da zona rural vender seus produtos em Teresina, produtos tais como: arroz feijão, milho e demais derivados da lavoura. Enquanto eles deixavam seus animais aqui e iam ao centro, os meninos brincavam em cima dos animais.  Então quem queria contratar uma égua se deslocava para a baixa da égua.

E certa noite aconteceu que uma égua estando no cio e soltando o odor da fertilidade, por que quando o animal está no cio solta aquele odor e o macho sente o cheiro de longe. Então o cavalo empreendeu uma perseguição a referida égua. E na fuga desenfreada a égua  veio a cair em um dos muitos grotões que havia na região. E na queda a égua quebrou o pescoço. E lógico, quebrando o pescoço não tem como sobreviver. O que levara a morte da égua. E passado algumas horas depois da morte do animal os urubus começaram a sobrevoar o corpo. O que chamou atenção da população. E vendo aquele movimento de urubus as pessoas perguntavam: “O que foi aquilo? O que houve ali?”... “Foi uma égua que caiu numa grota e morreu” e que ficou caracterizado como “A BAIXA DA ÉGUA” e os moradores da região e transeuntes da época quando mandavam alguém na região ou marcavam um encontro na região usavam a expressão: “... Lá onde morreu a égua!” “Lá onde ficam as éguas”.

E contam ainda que o cavalo ficara impressionado com a morte da égua, tanto que todos os dias o cavalo ia à beira do barranco olhar a égua morta. “pois ficara apaixonado pela égua tanto que ia chorar pela égua todos os dias.

 

 

 

 

A LENDA DA NÃO SE PODE OU NUM SE PODE

 

 

 

Seguindo a mesma linha, temos ainda a lenda da não se pode. Não se pode era uma visagem que por muito tempo assustou os freqüentadores da vida noturna de Teresina. Em relatos dos moradores antigos e agora na versão do Sr. Manoel Messias morador antigo da região e corroborado pelo também historiador e jornalista José Marques, que além de jornalista é sambista e compositor; afirmam ambos que se tratava de uma mulher. Ou melhor, aparentemente uma mulher jovem e bonita que aparecia nas noitadas e transitava pelas ruas de Teresina. Afirmam ainda que ela passava a noite namorando com amantes da vida noturna que vagavam pelas ruas.

Constam histórias de homens que a levaram para uma noitada de amor e que após os momentos amorosos a dita cuja sumia na escuridão. E o indivíduo saia alucinado pelas ruas gritando.

Naquela época havia os famosos boêmios que saiam à noite a procura de diversão. Diga-se de passagem, freqüentavam os baixos meretrícios como eram conhecidos antigamente. Hoje não existe mais. Hoje esse cargo foi ocupado pelos famosos motéis de luxo. Era só anoitecer que a num se pode aparecia. Ela costumava ficar sempre debaixo dos postes de luz e próximo a zona de prostituição.

O detalhe é que nessa época não havia energia (luz elétrica) eram os famosos lampiões. Postes com um lampião dentro. E os operários tinham que acender entre 18h00min e 1900minh. e só apagavam no dia seguinte. E os “cabras” boêmios quando voltavam do brega que ficava na Rua Paissandu em altas horas da noite, se deparavam com aquela mulher bonita debaixo dos postes. E quando o cabra se aproximava e via aquilo se assustava.

 

– Que diabos é aquilo?! O que aquela mulher fazia àquela hora debaixo daquele poste? E para ser maior o susto a mulher dizia: 

—Ei boêmio! Me dar um cigarro ai! O boêmio muito bêbado lhe entregava o cigarro. Ela recebia o cigarro, o boêmio acendia e enquanto ela tragava o cigarro começava a subir... Subir... Subir...

O então saia em disparada correndo e gritando enquanto a mulher subia  dava risadas e bradava: – AQUI É NÃO SE PODE!

 

LENDAS/NUM SE PODE/BAIXA DA ÉGUA/ZÉ MARQUES

 

 

ZÉ MARQUES

 

FOTO: DGAUDIO

 

José Marques, jornalista e sambista colaborou comigo nessas informações preciosas para o resgate e conservação de nossas raízes, histórias e folclores do nosso Estado. E segundo suas palavras ele vem realizando um trabalho junto às escolas de sambas para a conservação e ativação dessas lendas. Ou seja: (manter viva as lendas) Ainda segundo ele afirma vem atuando junto à nova diretoria da LIESTE (Liga Independente das Escolas de Samba de Teresina) que fora eleita recentemente uma articulação no sentido de unir o samba carnavalesco e as lendas de Teresina. Lendas como a da não se pode, BAIXA DA ÉGUA, a porca do dente de ouro, cabeça de cuia e outras mais.

Questionado sobre seu trabalho Zé Marques respondeu que quer justificar dentro do carnaval essas lendas.

 “— De modo que podemos justificar e ratificar essas lendas dentro do carnaval. Até por que não podemos perder nossas tradições, ou seja: poderemos fundamentar com as escolas de samba de Teresina, melhorar a qualidade das escolas e também todas essas questões sociais e culturais colocadas dentro das escolas de samba.  

Perguntado também sobre a lenda da NÃO SE PODE, Zé Marques afirma que se tratava de uma mulher muito bonita que ficava junto aos postes onde continham os lampiões e assustavas as pessoas. E quando passava um homem ela pedia um cigarro e sumia na escuridão

 

 

 

O PASSEIO DO CABEÇA DE CUIA

 

A bem pouco tempo o cabeça de cuia resolveu dar um passeio por Teresina. Saiu do encontro das águas, por volta das zero hora. Meia noite. Pegou um taxi ali pelo Bairro Poty Velho, mais precisamente na Praça do Poty. O taxista tava meio sonolento, pois praça não estava boa e ele não tinha apurado quase nada.  Preocupado por que tinha uma prestação do taxi para pagar, ele tava pegando qualquer passageiro. Contanto que lhe pagasse a corrida tava tudo bem. E o taxista não observou bem o passageiro, visto que estava chovendo e passageiro tava com uma capa de chuva. E o passageiro entrou no taxi e disse:

— Me leva que eu quero conhecer Teresina. E o taxista perguntou:

— Qual é a rota?

— Me leva pelas principais avenidas.

E o taxista achou muito estranho aquele passageiro, mas não falou nada. Afinal ele tinha pegado um passageiro e o bom profissional não faz muitas perguntas. Apenas o básico tais como qual é a rota para onde você quer ir.

 Mas de repente ele começou a sentir um forte cheiro de peixe. Mas não disse nada. Deve ter pensado que se tratava de mais um pescador que passara a noite pescando. Então passageiro indicou para o taxista onde queria ir. Andou pela zona sul, leste, foi lá pelo jóquei clube, Dirceu Arcoverde, Parque Piauí foi até o mocambinho. Passou lá pela região da porca do dente de ouro, baixa da égua. Passou pelas churrascarias, pedia para parar, mas não descia. Quando foi lá pelas 03h00minh e 04h00min da madrugada disse:

— Agora me leva de volta para o lugar onde você me pegou. E quando chegou ao local de onde partira, pegou uma bolsa colocou a capa dentro e entregou para o taxista e pulou dentro d’água.  O taxista assustado exclamou: rapaz! É o cabeça de Cuia!

E esse foi o passeio do CABEÇA DE CUIA pela cidade de Teresina. Isso foi à bem poço tempo. E ele está preste a dar outro passeio, e desta vez ele virá montado na porca do dente de ouro.

 

LENDAS/NUM SE PODE/BAIXA DA ÉGUA/ZÉ MARQUES